Leitmotiv é, no original alemão, algo como "motivo que liga". Liga elos aparentemente desconexos da mente ou de uma obra narrativa (musical, dramática ou literária) entre si, adquirindo coerência; liga o autor às criações de sua mente, deixando pistas ao longo do conjunto de sua obra. Ainda que jamais escreva ou componha, tudo que o homem faz é linguagem, então uma mensagem será dita e a mensagem é Eu sou.
As pistas querem ser descobertas. Porém qualquer linguagem requer um receptor que compreenda o código e possa decifrá-la. Muitas vezes a peça é encenada para uma sala às moscas; e pior, nem o próprio ator/autor se analisa, se assiste, se aplaude, ou vaia. Ignora as falas de seu corpo, seus traquejos, seus vícios. Ignora os seus sonhos. Ignora seus sentidos.
Na escrita, leitmotiv é a razão por quê se escreve. Quase nunca aparece abertamente, mas se deixa ver nas entrelinhas, nos cantos escuros, em outros nem tanto. Está em todo lugar e cabe procurá-la; é sempre bom olhar os buracos das fechaduras, debaixo dos tapetes, nas copas das árvores, por trás das vozes embargadas...
Para quem escreve o prazer (e a dor) está em espalhar, esconder, infiltrar, sugerir o motivo, enquanto cria. É como um ponto de repouso, aonde pode, depois dos vôos mais altos, ou da tempestade mais caótica, ou ainda do silêncio mais profundo, retornar. Onde firmar os pés e readquirir equilíbrio. Alinhar o olhar com o horizonte e enxergar como um mortal. É preciso encontrar, antes de tudo, esse lugar.
Para se ter um motivo para escrever, é necessário um motivo para viver. Se a resposta à sua questão não interessa a si próprio, dificilmente irá fazer alguém perder tempo lendo.
Leitmotiv é o elemento terra, na narração.
É uma verdade individual, ou uma angústia, uma ânsia por verdade que interesse a todos pela inventividade e sutileza com que foi encontrada. Ou por seu conteúdo humanista, ou por afinidade de objetivos, ou por simples empatia. O que vale é ler, procurar.
Na música, similarmente, leitmotiv é o tema que se repete, como um ponto de descanso. É sempre referida na obra clássica do compositor alemão Wagner, mas também se identifica claramente no Jazz, onde caminhos inimagináveis abertos pela improvisação deságuam sempre em um tema já ouvido, um ambiente familiar onde sentimos proteção, calor e conforto.
O elemento terra. O nascimento. Deitar-se no colo da mãe, e ficar...
A psicanálise, a propósito, é uma arte de leitura, de investigação. Consiste em entender o que se passa no íntimo de alguém enquanto ele pensa estar falando de outras coisas. O psicanalista segue pistas. Muitas são falsas; para superar essa barreira, ele, da mesma forma que se faz nas investigações criminais, busca por grupos de pistas que dêem coerência umas às outras. Em outras palavras, identifica nas repetidas condutas do analisado o seu leitmotiv. Inconsciente, forjado por anos de amadurecimento e acelerado por gatilhos escondidos em sua história.
Escrever, compor, é terapêutico. Não acuse falta de tempo. Você economizará o dobro de tempo deixando de se perguntar depois "por quê fui fazer isso?".
Ou, pelo menos, leia um livro. Pode ser aquele que você vai escrevendo, dia-a-dia, e nem percebe.
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