sexta-feira, 30 de maio de 2008

Melhor do que o vinho

Sábio é o que distingue entre o importante e o não importante. Todas as respostas são imperfeitas, e há respostas para tudo. O que faz diferença é o que se pergunta. Uma flor pode lhe revelar os seus segredos, mas apenas se você souber o que está procurando.
Assim, a sabedoria está muito mais ligada a conteúdos afetivos do que a quantidade de informações. Do que você gosta? O que busca?
Que veio neste campo da sabedoria colher? Que espera, assombrado ante o oráculo da natureza? Que quer encontrar, viajante?
São suas escolhas que vão ou não torná-lo sábio. Você pode ler os mesmos livros que leu Nietzsche, ou Da Vinci, e nada aprender. Ou pode abrir um único livro, e extrair-lhe o sumo com mãos hábeis, ou apenas sentar-se e olhar ao horizonte, e lá avistar a estrela oriental, e dela o brilho que trace caminhos.
Aprenda com aqueles que escavam a terra, pergunte ao que sai lá de dentro.
Sabedoria tem a ver com afeição. Amo as palavras, são minha terra, de onde tiro meu sustento, meu consolo e os desafios sem os quais eu não poderia viver, ou viveria sem pensar, sem ver, sem escrever, sem ser livre. Amo os alimentos, que me ensinam o significado de saber, enquanto me nutrem.
Sonho um dia em comer as palavras. Beber sabedoria. Ser criança.
Saúde!

domingo, 25 de maio de 2008

A propósito

Sonho... sonho, por que tão depressa
se desfaz no tempo, vai-se embora
e como orvalho fino se evapora
tão logo a escuridão da noite cessa?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A roda

Quantos lados tem uma roda? Roda tem lados?
Sim, dois. O lado de dentro. O lado de fora.
Em roda neste mundo nós estamos.
Penso numa ciranda. Ciranda... quem me deu... foi Lia.
Virados pro lado de dentro. De costas pro lado de fora.
Dentro da roda estão as coisas que podemos ver, tocar, estudar, inquirir. As coisas que sabemos pelos sentidos comuns.
Fora estão aquelas que não conhecemos, diretamente. As que sussurram aos nossos ouvidos, as que sopram em nossos pescoços, a brisa misteriosa, o calor que não se apresenta, o perfume que apenas imaginamos de onde veio.
Muita coisa do lado de dentro. Muito mais do lado de fora. Há quem tente virar-se pra ver, mas soltam-se as mãos, perde-se o contato, e quem vai não volta pra contar.
Quero é estar firme em meu posto. Elo forte no anel de meus parceiros mortais. De onde estou eu vejo meu oposto, na roda. Posso ver o que há atrás dele, suas sombras, perigos e mistérios que o envolvem. Também os tesouros. Ele pode ver o que há atrás de mim.
Mas estamos longe. Minha voz não pode alcançar os seus ouvidos. Nem a dele os meus.
É preciso fazer a mensagem rodar, e estou descobrindo, ainda, como.

Fecho os olhos. Na roda e em contato. O universo inteiro. A linguagem dos círculos. As esferas celestiais.
Sinto a terra debaixo de meus pés descalços. O vento que sopra fazendo barulho ao redor. Em cima as nuvens querendo chover. Começo a sentir o calor. Nas palmas das mãos. Nelas percebo a quentura de meus vizinhos na roda.
Penso na palavra samba e, como quem guarda um grande segredo, sorrio.

sábado, 17 de maio de 2008

Sangue bom

Sangue bom, você.
Sangue bom seu irmão, sua irmã, seu pai, mãe, suas tias, seus amigos. Eu, também. Todo mundo.
Todo sangue é bom; se não, não pediriam tanto pra doar.
Os tipos de sangue são A, B, AB e O e podem ser positivo ou negativo, portanto oito tipos sanguíneos, assim como os oito tipos psicológicos de Jung. O sangue, vermelho, é Mercúrio, o mensageiro, ele é quem tudo carrega, de um ponto a outro no corpo, tanto os nutrientes quanto o veneno. Corrente sanguínea... tudo ligado.
Cada tipo de sangue tem suas caraterísticas próprias, que intervêm na formação e na história da pessoa, influenciando no parto, nas doenças, nas curas, na forma como processa os alimentos - e o que é melhor comer, em sua personalidade, tanto quanto, também, na história da humanidade.
Acredito, com reservas... e o tipo A, do meu sangue, ser o sangue dos advogados, escritores e dos indecisos são apenas três coincidências sequenciais, é como jogar o dado três vezes e sair sempre número par. Não é tão difícil.
De qualquer forma, recomendo que saiba qual é seu tipo sanguíneo, porque pode precisar, numa emergência. Melhor se deixar escrito junto com seus documentos, talvez você esteja desacordado. Espero que nada disso aconteça, mas é bom estar preparado.
Bom mesmo, nessa hora, é ter o sangue AB, que pode receber transfusão de qualquer tipo. Assim, nem precisa lembrar qual é o seu, basta erguer o indicador e, mesmo balbuciante, pedir: Completa!

Se puder, doe sangue.

O site da ABMC - Associação Brasileira de Medicina Complementar tem informações úteis e outras curiosas a respeito:
http://www.medicinacomplementar.com.br/estrategia_nutrologia_dietagruposang.asp

terça-feira, 13 de maio de 2008

Perguntar não ofende

Sou um questófilo, ou outro termo latino, grego, sei lá, que o valha. Sou apaixonado por perguntas. Faço coleção. Tem aí alguma pra trocar? Acho bonito, grave, o ponto de interrogação, aquela linha curva aberta, disposta a buscar nos confins de onde for a resposta, seja qual resposta for. Respostas pouco me interessam. Tens muitas respostas? Azar o seu. Feliz o que mora num harém de perguntas.
Seja um também! Apaixone-se pelas perguntas, dê uma chance a elas. Perguntas curiosas... perguntas geniais que façam mover a sua mente. Pergunte às pessoas. Às coisas. Pergunte a si mesmo.

Dê respostas, mas não se apegue a elas. Treine isso fazendo-se perguntas iguais, todos os dias. Faça as iguais, depois faça outras diferentes, com base nas respostas. Isso é diálogo a um, é como jogar xadrez com um espelho, com o espaço infinito de fundo.
E se fosse eu? Quem sou eu? Onde é meu lar? O sentido da vida, onde mora? Dei o melhor de mim hoje? O que eu pergunto agora? O que perguntei antes?
Procure responder a essas e outras perguntas aparentemente tão simples... irá se surpreender ao ver que as respostas mudam, você muda e a morada das coisas que não têm morada mudam rapidamente de lugar.
Apaixone-se por descobrir, desvendar, desvelar, conhecer. Esses e outros mistérios estão dentros daquela barriga de ponta-cabeça oca.
Pergunte às plantas.

...

Alguma coisa te falta. Converse consigo mesmo. Pergunte-se. Convide-se. Mostre-se. Deixe-se dizer o que lhe faz feliz. E, por favor, ouça as respostas.
No silêncio, na tristeza, nos sonhos, nos atos falhos, nas coisas estranhas. Sim, dê mais atenção a tudo de anormal, incômodo ou esquisito que acontece em sua vida.
Tem a chave nas mãos.
Talvez seja o seu primeiro encontro consigo mesmo, por isso seja gentil.

domingo, 11 de maio de 2008

O touro

Sei que sou um sonhador, e a força de meus sonhos são como a energia do fogo, que sobe em linha reta como querendo voltar a Apolo, a Deus, ao Sol que é a fonte de seu intenso calor. São sonhos e os sonhos se reconhecem em sua morada nas alturas. Irmãos dos planetas e das estrelas.
De lá enxergo a terra e vejo nela um touro. Ele tem as patas dianteiras estendidas, com os dedos cascudos à frente, como se estivesse em prece. Assim quase cola seu queixo ao chão e, com certeza, dali deve ver muitas coisas que eu do alto não posso enxergar. Vejo esse touro que bufa, e espera.
Sei que preciso conhecê-lo, olhá-lo nos olhos, ter medo dele, e, depois disso, montá-lo. Preciso conhecer os meandros de seus caminhos na terra, o traçado de seus cascos que rezam. Para que meus sonhos passem a ser a minha vida diária, para que não haja mais diferença entre a realidade e o sonhar, em mim.
No quadro de Tarsila, é um touro solitário, em meio a árvores que são como tubos, sem vida, que mais parecem as barras de uma prisão. Cenário de tédio, as colunas iguais, não como árvores que se parecem mas são infinitamente diferentes. Esse touro não bufa.
Goya fez uma série de desenhos representando touros, nos quais sempre o toureiro presta reverência ao animal. É curioso! O homem tem o bicho a seus pés, já o subjugou, irá matá-lo tão logo queira. Mesmo assim se curva à sua força instintiva e descomunal.
O encontro com o touro simboliza o conhecimento e o respeito à ordem natural das coisas, sem o que dificilmente um sonho se tornaria realidade. Na mitologia grega, ele está dentro de um labirinto, e é mau. São as virtudes necessárias para encontrá-lo: coragem e senso de orientação. Conhecer os caminhos.
Quero encontrá-lo, ouvir seu bufar atemorizante. O caminho ele mesmo me conta. Quase posso ver os seus contornos. Mas todas as vezes me agarro ao fio de Ariadne, e volto para minha vida mental sem caminhos intrincados. Continuo a voar como um balão desordenado, leve demais, sem os sacos de terra que lhe dão gravidade, da terra que tem um touro por seu sacerdote e guardião.

(No céu, a constelação de Touro é onde ficam as plêiades. Isso é outra história.)



A tela O touro e outras da brasileira Tarsila do Amaral estiveram na Pinacoteca, na Luz. E cinco gravuras da série Tauromaquia, do espanhol Francisco de Goya, estão em coleção do Masp, na Avenida Paulista, São Paulo, Brasil.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A verdade...

Em uma tarde de sol, o mestre orienta os que o ouvem a não jurar, de forma alguma. Com uma justificativa: a sua palavra dever sim sim, não não. Falou, está falado.
Nossas palavras sejam sempre as mesmas, fiel ao que sabemos, sentimos e pensamos. Isto é ser dono da palavra, a benção suprema de ser compreendido. Pense em ter clareza.
Palavras têm sido barreiras... que sejam transparentes; que deixem ver, mesmo meio desfocado, seu pensamento. Sem, por isso, deixar lado o mistério. Limpe suas palavras. Lave a janela. Palavras podem ser janelas e pontes. Abrigo e calor. Podem ser uma colheita.
Assuma um compromisso com suas palavras. Em breve elas começarão a mudar para melhor, em respeito a seu corpo, sua saúde.
Talvez o que você diga não seja a verdade, para muitos. Mesmo assim pode ser verdadeiro, por espelhar o que se passa em seu interior.

Se eu jurar, será como dizer: agora, desta vez, falo a verdade.
Se, para mim, for necessário informar isso, estarei abertamente confessando que das outras vezes mentia. "Desta vez é verdade, eu jur..."
Fale a verdade, todas as vezes. Que sua palavra se anuncie e se sustente por si só.
Boa sorte.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Histórias sem dono

Das venturas e desventuras que atravessamos neste mundo, vemos aquilo que se apresenta aos sentidos. Ouvimos o que é dito, tocamos o palpável, sentimos os cheiros.
E, no ar, ficam as palavras não ditas... o invisível, o indizível, o intocável...
Os atores passam e se vão, e no cenário acumulado de riquezas algo começa a ganhar vida.
Uma história deseja ser contada, arte sem artista, canção sem cantor.
Vai buscando espaço, sorrateiramente, sem ser percebida. Procura, paquera, namora, se esgueira e se encaixa entre uma fala e outra, do povo e dos artistas. Como uma idéia sem dono, que é colhida aqui e ali.
Assim nascem os mitos.
Histórias sem dono, de todos, sobre todos.