quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Assombrações

Rápida visita ao Museu da Língua Portuguesa, assistir Assombrações do Recife Velho.
A peça é baseada em livro de mesmo nome, do Pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987). Na época Freyre era diretor de um jornal, então mandou que seu repórter policial visitasse diversas casas mal-assombradas, a fim de colher as histórias, que ele depois transformou em contos primorosos.
Freyre tentou como poucos esmiuçar a formação social e psicológica do brasileiro; explicou, em livros como Casa grande e senzala, como cada raça contribuiu para essa formação; mostrou ainda, em detalhes, a influência de circunstâncias como moradia e alimentação na evolução de nosso povo.
Pois esse grande gênio sabia que narrar essas histórias, esses causos assombrosos, era e é uma das formas melhores de se desnudar um povo, um local, porque revela o que os homens têm de mais íntimo, seu medo. Mais do que o código genético! Os medos estão impressos numa área abissal de seu cérebro... no fundo do inconsciente coletivo, que é como a mente do mundo, de todos...
O medo nos une uns aos outros, e nos une a nossos ancestrais. Histórias apavorantes sempre encontrarão acolhida entre o povo, e passarão de boca em boca, enquanto houver um bom contador pra contar. Pena que hoje as histórias de terror envolvam ladrões e terroristas, não mais figuras extraordinárias.

Assovios sinistros... chamas bruxuleantes... sombras assustadoras...
Boca de ouro, o Diabo, ruas mal-assombradas, Lobisomem...
Figuras que habitam os sonhos, estimulam a imaginação, ensinam a respeitar o Mistério.
A lenda do homem que se transforma em lobo surgiu na Grécia, estabeleceu-se na Europa durante a idade média, onde levou muita gente à fogueira, e veio parar no Brasil, causar terror nas noites de lua cheia...
Há mitos que organizam, outros que bagunçam o mundo; ambos são fundamentais para um desenvolvimento psicológico saudável.
Desse ponto de vista, não é tão absurdo que um homem se possa transformar em lobo. Para dar vazão a seus desejos e instintos reprimidos, ele se lança ao mundo protegido pela fantasia, transmudado em animal... de dia, distinto senhor... à noite, um bicho sedento...
No livro O lobo da estepe, do escritor alemão Hermann Hesse, somos duplos, homem e lobo. Ai daquele que não levar o seu lobo a passeio...
E ai daquele que não tiver medo!

Peça Assombrações do Recife Velho, direção de Nexton Moreno, com a companhia Os Fofos Encenam.

O livro O lobo da estepe, de Hermann Hesse (1877-1962), gerou uma onda de suicídios na Alemanha, à época de sua publicação; o autor se apressou a escrever sobre o caso, esclarecendo que a mensagem de seu livro é de esperança, como todos os belos livros que escreveu.

O Almanaque Brasil (
http://www.almanaquebrasil.com.br/) é um reservatório do folclore e das tradições brasileiras, com seus causos, suas comidas, seus lugares e seus mistérios.

2 comentários:

Helene França disse...

Qd voltar a Recife, vc precisa conhecer a casa do Freyre... exatamente igual desde que ele faleceu, super conservada, linda e cheia de livros. Mágica!
Fica longe de onde eu moro, mas a gente dah um jeito, hehehe

Bjo

Curumim disse...

Minha comentarista fiel!
Freyre é ótimo, todo mundo devia conhecer um pouco de sua obra que é sobre a formação de nosso povo e identidade de nossa nação.
Sei que é difícil entrar de cabeça em seus livros de 500, 600 páginas, mas há outros meios de saber sobre ele, exposições, na internet, ou mesmo aqui, que ainda vou falar muito desse pernambucano arretado.