quinta-feira, 22 de maio de 2008

A roda

Quantos lados tem uma roda? Roda tem lados?
Sim, dois. O lado de dentro. O lado de fora.
Em roda neste mundo nós estamos.
Penso numa ciranda. Ciranda... quem me deu... foi Lia.
Virados pro lado de dentro. De costas pro lado de fora.
Dentro da roda estão as coisas que podemos ver, tocar, estudar, inquirir. As coisas que sabemos pelos sentidos comuns.
Fora estão aquelas que não conhecemos, diretamente. As que sussurram aos nossos ouvidos, as que sopram em nossos pescoços, a brisa misteriosa, o calor que não se apresenta, o perfume que apenas imaginamos de onde veio.
Muita coisa do lado de dentro. Muito mais do lado de fora. Há quem tente virar-se pra ver, mas soltam-se as mãos, perde-se o contato, e quem vai não volta pra contar.
Quero é estar firme em meu posto. Elo forte no anel de meus parceiros mortais. De onde estou eu vejo meu oposto, na roda. Posso ver o que há atrás dele, suas sombras, perigos e mistérios que o envolvem. Também os tesouros. Ele pode ver o que há atrás de mim.
Mas estamos longe. Minha voz não pode alcançar os seus ouvidos. Nem a dele os meus.
É preciso fazer a mensagem rodar, e estou descobrindo, ainda, como.

Fecho os olhos. Na roda e em contato. O universo inteiro. A linguagem dos círculos. As esferas celestiais.
Sinto a terra debaixo de meus pés descalços. O vento que sopra fazendo barulho ao redor. Em cima as nuvens querendo chover. Começo a sentir o calor. Nas palmas das mãos. Nelas percebo a quentura de meus vizinhos na roda.
Penso na palavra samba e, como quem guarda um grande segredo, sorrio.

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