quinta-feira, 13 de março de 2008

Diário de viagem

Um caderno de viagem é o contrário de qualquer modernidade, foi o primeiro gênero literário que existiu no Brasil. Assim sendo...
Primeira parada, Brasília. Capital da nação. Capital do poder.

Na década de 1950 o presidente Juscelino Kubistchek estabeleceu um plano de metas a ser cumprido em 4 anos, o qual incluía a construção de uma nova capital. O projeto da cidade foi idealizado pelo arquiteto Lúcio Costa e todos os prédios públicos foram desenhados por outro arquiteto, o socialista centenário Oscar Niemeyer.

A cidade é incrivelmente reta, organizada. Os blocos, muito semelhantes entre si em sua construção, estão dispostos lado a lado, em ordem numérica crescente. Comércio e lazer, residências e os prédios dos poderes, tudo dividido, cada coisa em seu lugar.

As formas exatas, precisas, dos prédios e ruas de Brasília lhe rendem a fama de seca, fria, sem vida. É o que me dizem todos a quem anunciei esta parada. Alguns sem nunca ter ido até lá, muitos tentaram arrancar de mim a confirmação de que Brasília é uma cidade chata.

Mas não conseguiram. A geometria é um detalhe. Importante, mas incapaz de me conduzir a um julgamento antecipado.

Olhando de perto, os blocos e prédios não são tão iguais. As pessoas não são iguais, nem os locais, nem os dias. O tempo é instável, e as pessoas igualmente. Procurando bem se pode achar tudo o que precise. Gente com quem se tenha afinidade, um lugar aconchegante para chamar de lar, bares alternativos, malucos, raves, sossego.

No parque Olhos d'água... dentro da cidade estão as formas circulares que a muitos podem fazer falta, nas flores, no eterno mover das águas da lagoa, na lua que alta vive e aparece...

Durante a meditação, o inevitável: Brasília faz pensar em Poder. Poder de um homem sobre outro. Capacidade de mandar, fazer valer sua vontade. Com base nas relações de poder se estruturam as sociedades, as famílias, as nações, as gangues, turmas, qualquer agrupamento humano.

Ao conhecer esse tipo de poder, por menor que seja, corre o homem perigo. O poder é bom, gostoso. Atrai, seduz, transforma.

Que ao adquirir qualquer parcela de poder você e eu possamos perceber não as benesses, mas a responsabilidade de manejar poder sobre pessoas.

Que esta responsabilidade seja nossa autêntica missão...

Que seja um fardo leve, e os seus frutos, saborosos.

3 comentários:

Helene França disse...

saudade do tamanho de Brasília!

sérgio de carvalho disse...

brasilia...o misto da utopia modernista, legião urbana e pízza.

Unknown disse...

Moço.. se é ligeiro... demorei uns meses prá descobrir esses caminhos nesta selva de concreto. Hoje já sei sobreviver por lá, mas confesso que no início não foi mole não. O que prá você veio com tanta rapidez e clareza geralmente é construído depois de muita solidão e aridez.